quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Intensidade
Está escrito: este será meu último cálice.
Depois de degustá-lo, estarei irremediavelmente morto.
Tal convicção há muito me persegue.
“Tramará o próprio fim?”, cogitarão os insensatos.
Os descrentes recorrerão à “fugacidade de um mau presságio”.
É certeza serena, das poucas que carrego.
Minha existência cessará quando o gole derradeiro
Banhar minha garganta e saciá-la.
Farei deste o mais solene de meus atos.
Convidarei grandes amigos à mesa.
Fitarei, demoradamente, semblante por semblante.
Ressuscitarei, em cada um, as mais doces memórias.
As mãos firmes. O cálice estendido.
O olhar erguido. A voz decidida.
— Amigos meus, vida minha, brindemos!
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